No fim de semana 16 a 19 de junho, aconteceu em São Paulo a 26ª Parada do Orgulho LGBTQIA+, com desfile na Avenida Paulista, no domingo, e diversos outros eventos, como a Feira Cultural LGBT, no Largo do Arouche, a Marcha Trans e a Marcha Lesbi, das lésbicas e bissexuais. Eventos que afirmam a sacralidade dos nossos corpos e das nossas vivências de sexualidade e gênero, sob o signo da diversidade.
Entre os acontecimentos deste ano, dois deles contaram com a articulação e participação do MOPA: o Ato Ecumênico Por uma Fé que Abraça, Acolhe e Liberta, que aconteceu no sábado, 18, no Largo do Arouche, e o Bloco Gente de Fé, que reuniu grupos e pessoas religiosas LGBTQIA+ na Parada, na Avenida Paulista.
O Largo do Arouche é um lugar simbólico para o movimento LGBTQIA+, espaço que remete à resistência, à ousadia, ao grito de liberdade dos nossos corpos. Celebrar o sagrado, múltiplo e diverso, naquele espaço recorda a nós, cristãos, o Pentecostes: todos reunidos no mesmo lugar, se entendendo, apesar das diferentes linguagens, irmanados no desejo e na construção de vida em abundância para todes.
No ato, 19 grupos formados por pessoas religiosas LGBTQIA+ de diferentes tradições e espiritualidades estiveram presentes para afirmar o direito ao sagrado e à espiritualidade a todas as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transsexuais, pessoas intersexo etc. Além das falas de cada coletivo, formamos uma grande mandala com vários símbolos religiosos.
Do Mopa, estiveram presentes Anderson, Edilson, Eduardo, José Mateus, Luca, Luiz Fernando. Anderson, ao representar o grupo em sua fala, lembrou que “não pode continuar existindo uma igreja de Cristo que crucifica, demoniza e violenta de tantas outras formas pessoas LGBTs todos os dias (...) Em nosso compromisso com o Evangelho repudiamos os ataques motivados por racismo e intolerância religiosa. Nossa fé na Eucaristia e no Reino de Deus nos motiva e nos clama a nos mancomunar solidariamente com as LGBTs religiosas em suas lutas dentro e fora de suas instituições religiosas.”. Anderson também pontuou nossa preocupação com as eleições de 2022, “momento precioso para fazer avançar nossas pautas e cada vez mais pessoas LGBTs ocuparem os espaços de poder.”
As falas de todes foram muito significativas, tocantes. Algumas delas foram registradas em reportagem da Folha de São Paulo (link ao final do texto). Além de defender o direito ao sagrado das pessoas LGBTQIA+ nas diferentes tradições religiosas, pontuou-se a a necessidade de unir esforços contra a LGBTIfobia, a importância de derrotar Bolsonaro nas eleições de outubro e a potência da nossa unidade em torno das causas que nos são comuns.
No domingo, na Avenida Paulista, os grupos estiveram presentes no Bloco Gente de Fé, que se reuniu pela segunda vez na Parada LGBT. Além de ato político, a Parada é também celebração, ritual que nos recorda os caminhos dos nossos processos libertadores, vividos pessoal e coletivamente.
Nós, do Mopa, nos alegramos muito com essa articulação promissora que coloca no mesmo espaço habitado diferentes tradições religiosas e diferentes vivências do corpo, do gênero, da sexualidade. Como cristãos, agrademos ao Deus da Vida por sentarmos juntos à mesa da fraternidade com nossas irmãs e irmãos, com quem comungamos a fé na vida, a resistência, a alegria, a ousadia de ser quem se é e lutar ao lado das vítimas do sistema de morte que nos cerca.
Se Marielle Franco não tivesse sido assassinada, imagino-a em São Paulo, por ocasião da Parada, participando do nosso ato, como católica que era. Ela chegaria no Largo do Arouche, respiraria a história LGBTQIA+ que lá está inscrita, aplaudiria as falas dos nossos grupos, sorriria para todes, tomaria a palavra:
“Quantas e quantos mais LGBT vão precisar morrer, para que esta guerra [LGBTIfobia] acabe? ...Os nossos corpos, o nosso transitar, a nossa mobilidade estão sempre ameaçadas.... Chega de esculachar nossa população, chega de matar nossas manas... É preciso romper com a naturalização da LGBTIfobia... As rosas e girassóis da resistência nascem no asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado falando de nossa existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas.”
Para nós, do catolicismo, Marielle vive ressuscitada, ao lado daquelas e daqueles que a precederam na luta, lavados no sangue do Cordeiro. Também nós, que ainda habitamos esta nossa Casa Comum, seguimos em comunhão, para que o Reino de Deus aconteça como uma grande festa, na qual o sagrado tem muitos nomes e se manifesta de diversas formas, mas sempre o mesmo: o Amor.
Links:
Religiosos enfrentam chuva em ato ecumênico LGBTQIA+: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/06/religiosos-enfrentam-chuva-em-ato-ecumenico-lgbtqia.shtml
Religiosos LGBTQIA+ criam ato ecumênico e bloco da fé em São Paulo, destaca Folha de S. Paulo: https://agenciaaids.com.br/noticia/religiosos-lgbtqia-criam-ato-ecumenico-e-bloco-da-fe-em-sao-paulo-destaca-folha-de-s-paulo/
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